Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2022

Uma análise à luz junguiana sobre como a necropolítica pode ser impulsionada pela pandemia de covid-19 no Brasil

Imagem
Na história recente do Brasil, passamos por um período de muito contrastes entre posicionamentos opostos e conflitantes, que expuseram luzes e sombras, desde pessoas a instituições e coletivos, e, para além disso, evidenciaram mortes. No ano de 2018, período de campanha eleitoral, vimos “guerras virtuais” sendo travadas e reverberando nas ruas. Após as eleições, posicionamentos que contrastam luzes e sombras continuam aparecendo, porém, as consequências de tais posicionamentos também. Passados quatro anos, números que derivam de fatos agora são evidentes, e, no meio do caminho, tais escolhas políticas encontraram um vírus, o Covid-19, que impulsionou os planos de necropolitica. Mais a diante, vou discorrer sobre a necropolitica através de um prisma que encontra fundamentos nas bases da psicologia junguiana. Porém, antes preciso expor alguns dados e conceitos para depois evidenciar tais relações. Peço calma ao leitor que se encontra interessado nas obras de C. G. Jung, elas estarão disp...

Ensaio sobre o tempo

Imagem
  “Compositor de destinos Tambor de todos os ritmos Tempo, tempo, tempo, tempo Entro em um acordo contigo Tempo, tempo, tempo, tempo Por seres tão inventivo E pareceres contínuo Tempo, tempo, tempo, tempo És um dos deuses mais lindos Tempo, tempo, tempo, tempo” (Caetano Veloso) O fuso horário foi inventado em 1884, para que a modernidade pudesse fluir de forma conjunta: trens e navios precisavam ser carregados assim que chegassem, pessoas precisavam viajar, reuniões haviam de serem marcadas… tempo agora era dinheiro e não poderia ser desperdiçado. Ou seja, a necessidade de padronizar o tempo surgiu junto com a economia capitalista (MARTINS, 2008). Mas seria esse tempo, um “tempo capital”, o mesmo da psique? Jung, no documentário “Face to face” (1959), afirma que a psique não é limitada pelo tempo e espaço da consciência e, portanto, não vive dentro desses limites. Do mesmo modo, conclui que é adequado pensarmos de acordo com as linhas da natureza, considerando que temos uma vida qu...

Diálogo entre cosmovisões: como a psicologia junguiana se aproxima de alguns povos indígenas

Imagem
  Na educação indígena do povo Guarani e Kaiowá, um dos fundamentos de sua cosmovisão diz que devemos ser muito sábios para sabermos respeitar a/o outra/o. Respeito que deve se estender muito além dos seres humanos: árvores, plantas, bichos, terra, natureza… pois tudo é interligado e coexistente, nada pode ser excluído, nada pode existir sem que outras partes existam (XAMIRINHUPOTY, 2016). Jung, por sua vez, ao observar a cosmovisão Cristã, sugere que quando Cristo diz: “cada um tome sobre si o peso de sua cruz”, quer dizer que só assim, não haverá espaço para “dilacerar os outros” (JUNG, 2011, § 176). E quem seria essa/e outra/o? Embora pareça se referir apenas ao humano, podemos ampliar o simbolismo da/o “outra/o”, tangenciando assim toda a criação, afinal, segundo os ensinamentos cristãos, tudo foi criado pelo mesmo e único deus: animais, plantas, humanos.  Ailton Krenak, pesquisador indígena brasileiro, no documentário “Guerras do Brasil.doc” (2019), pontua que q...

Necropolítica, zumbis, COVID-19 e Jung

Imagem
  Uma das maiores preocupações de C. G. Jung (2012) foi a questão do ser humano massificado. No decorrer das Obras Completas, o autor discorre cerca de 150 vezes sobre este assunto, segundo a pesquisa de doutorado de Torres (2020) que fez um levantamento bibliográfico do tema para sua tese sobre Contágio Psíquico. E mais, para Jung (2012), o maior perigo futuro não seria o das catástrofes naturais, mas o da contaminação psíquica que levaria o ser humano ao estado de massa, inaugurando novos “-ismos”. Este futurismo de Jung já está em processo: um dos índices mais alarmantes no Brasil é o do analfabetismo funcional. Segundo o Instituto Paulo Montegro (INAF)  um terço dos brasileiros enquadram-se neste perfil: indivíduos que possuem conhecimento básico de leitura e escrita, isto é, sabem quanto deverá ser o troco no supermercado e assinar seus nomes. E, por esse motivo, possuem dificuldades em interpretar textos, identificar ironias e principalmente identificar Fake News.  ...